Após a morte, o corpo é logo sepultado, e,
somente então, familiares e amigos se reúnem para consolar-se mutuamente. Nessa
ocasião, todos têm a oportunidade de expressar suas emoções, o que sempre
envolve lágrimas e muitas recordações dos bons momentos vividos juntos com o
falecido.
Mas a vida é muito curta. Os dias de luto não
podem ser muitos, pois todos precisam viver intensamente cada momento de sua
existência e concentrar-se no presente. O falecido e a convivência com ele
agora fazem parte do passado. Apenas seu exemplo e as lições que ensinou em
vida permanecem registrados na memória daqueles que o conheceram e conviveram
com ele. (p. 40).
Estas
palavras, extraídas do livro Planeta Terra: o que aconteceu? , descrevem, de
modo sucinto, a maneira como a civilização que estará habitando o planeta Terra
por volta do ano 2250, lidará com a questão da morte.
Deixando
de lado a ficção e voltando para a realidade, no dia de hoje, 02 de Novembro,
muitos dedicam seu tempo para homenagear os mortos. Mais do que nunca, esse é
um dia de recordações, algumas boas e outras, nem tanto. Dentre as boas recordações
destacam-se: os bons momentos passados juntos com o falecido, o bem que ele
semeou e as lições de vida que ele deixou. Do outro lado estão as recordações
desagradáveis, permeadas, por sentimentos de culpa, mágoas, problemas nas
resolvidos, mas o pior de todos, talvez seja uma sensação de vazio, suscitado
pela ausência da pessoa querida. E, na mente de todos, de modo intenso ou
sutil, surge a persistente e, por vezes, incômoda questão: O que acontece
depois da morte? O que acontece com quem fica e o que acontece com quem vai?
Para
quem fica restam a saudade, a solidão, a dor da perda, pensamentos confusos e
contraditórios, a obrigação de reorganizar a vida financeira e familiar...
Sobre a questão dos sentimentos contraditórios, certa vez li um livro que
mencionava a história de uma senhora que procurou um profissional para
auxiliá-la a lidar com a perda do esposo, após uma longa e feliz convivência
matrimonial. Logo na primeira sessão ela deixou bem claro que estava com raiva,
muita raiva do esposo por tê-la abandonado, por ele ter morrido antes dela, deixando-a
sozinha. “Ele não podia ter me deixado”, dizia ela, entre lágrimas, “não
consigo viver sem ele”.
Isso
me faz lembrar as palavras de alguém que mencionou, certa vez, que “amava tanto
sua esposa que preferia ter morrido no lugar dela”. Ou seja, ele preferia estar
morto, automaticamente sem sofrer nada,
e que a esposa estivesse viva sofrendo a dor da perda no lugar dele. Pergunto:
que amor é esse? Isso me faz concluir que é amor próprio, não o amor pela
esposa. Ele queria livrar a si mesmo da dor da perda.
Fiquei
sabendo de outra senhora, que perdeu o filho prematuramente, um jovem dinâmico
e pai de família, que foi vítima de uma doença incurável. Os familiares
tentavam confortá-la, dizendo que se ele escapasse, jamais poderia levar uma
vida normal e viveria com muitas sequelas. Contudo, em meio ao seu desespero, aquela
mãe chegou a afirmar que preferia ter o filho vivo em cima de uma cama, sem
poder andar, comer ou falar, do que perdê-lo. Ela não estava aguentando a
perda.
Para
quem fica, depois da morte, muitas vezes restam sentimentos conflitivos. De um
lado estão aqueles sentimentos de amor pelo falecido e interesse em seu bem
estar, do outro, sentimentos de amor próprio, de autoproteção, que levam o
indivíduo a não suportar a dor da perda, levando-o, inclusive, a desejar trocar
de lugar com o morto, se fosse possível.
Mas,
e o que acontece com quem vai? O que há depois da morte? Definitivamente NADA?
Ou existe um paraíso, inferno, outras dimensões espirituais? Quem vai pode
retornar? Quem vai pode acompanhar, ainda que de longe, o que anda acontecendo
no Planeta Terra?
Para
os vivos, a questão da morte apresenta dois polos distintos, duas certezas: a
certeza de que a existência do falecido definitivamente terminou e a certeza de
que o morto apenas “mudou de endereço”, ou seja partiu para o “outro lado”, uma
nova dimensão, uma dimensão espiritual. Entre esses dois polos, entre essas duas
certezas, há um grande abismo de incertezas. E mesmo para aqueles que acreditam
na existência após a morte, tal certeza conduz a muitas incertezas.
Onde,
exatamente, estaria o falecido, o que ele estaria fazendo? Será que ele estaria
sofrendo, teria notícias de seus familiares que ficaram ou não mais se
lembraria deles? Caso o falecido venha a ter notícias dos familiares, como se sentirá
ao vê-los sofrerem, inclusive com a dor causada por sua ausência? Nessa existência
após a morte, haveria a possibilidade de um reencontro entre aqueles que
conviveram em vida? Como seria esse reencontro, alegre e descontraído ou tenso
e em clima de acerto de contas?
E
você, leitor, em qual desses polos se encontra? Ou você está entre um e outro,
debatendo-se em meio às incertezas? Será que aquela sua certeza o conduz a
maiores incertezas? Afinal, nossas crenças acerca da morte afetam o modo como conduzimos
nossa vida?
Que
tal, pensar um pouco nesse assunto?
Para
começar, sugiro a reflexão sobre dois textos extraídos de um livro, escrito há
muito tempo, por pessoas que viveram em diferentes épocas e lugares, o qual
apresenta aspectos surpreendentes acerca da questão da vida e da morte: 1)a
morte põe fim à existência do indivíduo; 2)os mortos voltarão a viver, ou seja,
eles ressuscitarão. Sendo assim, o intervalo entre a morte e a ressurreição é
marcado pela inexistência do indivíduo.
“Tudo quanto te
vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura para
onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma.”
“Não vos maravilheis disso, porque vem a hora
em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizerem o
bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a
ressurreição da condenação.”
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