terça-feira, 29 de outubro de 2013

Um Estranho em Casa (Parte 1)



Fernando caminhava pela calçada de uma tranquila e arborizada rua residencial.
Andava desconfiado, pois havia “aprontado” de novo e quase tinha sido apanhado em flagrante. Contudo, ao passar pela frente da casa da família Lins, sentiu um incontrolável desejo de entrar ali.
Olhando ao redor, percebeu que a rua estava deserta e o silêncio imperava naquela residência.
Ao pular o muro teve a certeza de que não havia ninguém em casa.
“Que bom”, pensou consigo mesmo. “Aproveita, Fernando, que hoje é teu dia de sorte!”
Estudou, cuidadosamente, o ambiente e decidiu seguir em direção à porta dos fundos.
Em pouco tempo, Fernando já se encontrava no interior da residência da família Lins, mas o que ele não imaginava era que, naquele dia, todos estavam em casa, inclusive Anthony, o filho mais velho do Sr. Lins, que era um policial.
Fernando estava no térreo, procurando algo de valor que pudesse levar consigo. Vasculhava calmamente cada cômodo, até que, sua razão entrou em cena, e ele ponderou que era melhor se apressar, para não correr o risco de ser apanhado em flagrante.
Foi, então, que encontrou algo imensamente desejável, que faria os olhos de qualquer um saltar das órbitas.
Sem pensar duas vezes, Fernando agarrou o tão cobiçado objeto e concluiu que era melhor se retirar. Contudo, na pressa por sair, acabou derrubando um jarro de flores, o qual veio ao chão, espatifando-se em mil pedaços, espalhando areia num raio de mais de 5 m e, é óbvio, despertando a família Lins, que dormia no andar de cima.
¾  Quem está aí?  ¾  bradou o Sr. Lins que, apesar de estar na casa dos 80 anos, ainda continuava forte e bem disposto.
O ancião desceu tão rápido quanto pôde e, ao chegar embaixo, encontrou Fernando que, desorientado com o incidente, não conseguia encontrar a porta de saída.
Não deu outra. Os dois entraram em luta corporal e o Sr. Lins levou a pior, enquanto Fernando conseguiu escapar, levando o que bem quis daquela residência.
Ao ouvir os gritos do Sr. Lins, Pablo, Anthony e Marcela, os filhos, desceram correndo as escadas e encontraram o pai estendido ao chão, com muitos ferimentos pelo corpo.
¾  Ah, seu desgraçado! Eu vou te matar!  ¾ berrou Pablo.
¾  Fique calmo, dizia seu irmão Anthony, o policial. ¾ Pode deixar que eu cuido desse negócio.
Enquanto isso, Marcela correu e foi buscar uma caixa de primeiros socorros para aliviar o sofrimento do pai.
Quanto a Fernando, não apenas conseguiu escapar ileso, como também já se encontrava a cerca de duas quadras adiante, prestes a pular o muro de outra residência.
Antes que você salte da cadeira bradando por justiça e fique revoltado com as maldades que acontecem todo o dia, nesse país, e ninguém dá um jeito em criminosos como esse tal de Fernando, deixe-me acalmá-lo dizendo que o protagonista de nossa história não é nenhum criminoso.
Agora, certamente, você vai pensar que eu fiquei maluca por dar razão a alguém que invade a propriedade alheia, pratica roubo e lesão corporal, com o agravante de ter sido contra um idoso.
Fique calmo (a), pois eu nem perdi o juízo e nem passei a apoiar o crime de forma consciente. Apesar de tudo, insisto em dizer que Fernando não é um criminoso e, naquela situação, era ele quem estava em desvantagem.
Quer conferir? Então leia a segunda parte da história em nossa próxima postagem.




 
 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Reflexões sobre o Dia das Crianças


Estamos comemorando a Semana das Crianças.

Por toda parte somos bombardeados pelos apelos comerciais que apresentam 1001 sugestões de presentes para os pequenos.

Tenho observado, cuidadosamente, os encartes dos jornais alusivos a essa data. Alguns deles, verdadeiras revistas de propagandas, trazem produtos que são a febre do momento, e não apenas para crianças. Celulares, tablets e notebooks estão no topo das listas de propagandas, seguidos de jogos eletrônicos, bonecas, bonecos, carrinhos, pistolas, patins, patinetes, skates, bolas, casinhas e seus utensílios, kits de beleza...  Ufa! A lista é grande!

Uma das revistas de propagandas que mais me chamou atenção possuía 51 páginas, cada uma delas, com cerca de 20 itens. A capa também trazia lá suas propagandas, enquanto a contracapa apresentava algo que me pareceu ser a novidade máxima do momento: cartões-presente para as crianças comprarem o que quisessem naquela loja. “Dê crédito para o seu filho comprar o que quiser”, eram os dizeres ao lado do tal cartão. Havia também o cartão-presente com crédito para a criança utilizar em jogos em determinada rede social. Posso estar desatualizada, mas eu nunca tinha ouvido falar nisso antes.

Ao ver todos esses encartes, comecei a pensar em duas coisas: a primeira, é que fiquei grandemente frustrada por não encontrar nenhuma sugestão de livro como presente para as crianças.

Alguns, talvez, vão dizer; Ah, então você advoga em causa própria, pois estará lançando um livro infantil no próximo dia 12...

É... pode ser. Não tenho como negar que gostaria muito de ver a propaganda de meus livros em todos os encartes comerciais, em todos os jornais, nas revistas, no rádio e na TV. E qual escritor não iria querer isso?

Mas a pergunta que não quer calar, que me incomoda e me preocupa é a seguinte: Os pais estão incentivando seus filhos a cultivar o hábito da leitura? As crianças de hoje desconhecem o prazer de devorar livros, prazer esse que experimentei em minha infância, incentivada por minha família, e que me acompanha até hoje?

Estamos na Semana das Crianças e isso me faz lembrar as palavras do Dr. Augusto Cury, em seu livro Pais Brilhantes, Professores Fascinantes: “...uma criança de sete anos na atualidade tem mais informações na memória, do que um ser humano de setenta, há um ou dois séculos.” p. 61.

Quando li essas palavras, tive a curiosidade de olhar o ano em que o livro foi publicado: 2003, muito antes da febre dos dispositivos móveis. E agora, como será que anda o patamar de informações na mente infantil?

Que bom! ¾ Muitos podem pensar. Nosso cérebro hoje está mais evoluído, somos mais capazes que os humanos que viveram há alguns séculos.

Contudo, eu pergunto: será que nosso cérebro está mais desenvolvido que o daqueles que viveram antes de nós, ou está mais sobrecarregado?

Será que um cérebro sobrecarregado tem a mesma desenvoltura que um cérebro “light” para criar, planejar, solucionar conflitos, gerenciar pensamentos, administrar o tempo, tomar decisões e desfrutar de cada momento do dia, com sua rotina e suas surpresas?

Quando se fala em infância, não posso deixar de lembrar o célebre poema, Meus Oito Anos, de Casimiro de Abreu:

“Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!”


Enquanto leio esse poema, tenho o prazer de me deleitar, imaginando os cenários descritos pelo poeta, mesclados com cenas de minha própria infância.

“Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!”

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;

“O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor”

Outros versos seguem-se a estes, nos quais podemos perceber a habilidade das crianças de apreciar e se deleitar com as coisas simples e belas da natureza. Então, de modo triste e nostálgico, o poeta compara os tempos infantis com sua situação atual, dizendo:

“Que doce a vida não era
Em vez das mágoas de agora”.

Quando leio essas palavras, sou levada a pensar que muitas pessoas ainda não descobriram que a vida de adulto pode ser igualmente leve e feliz, como a de uma criança, e que esse segredo está acessível a TODOS.

O primeiro passo consiste em restaurar o hábito de observar e dar valor às coisas da natureza que estão bem aí, diante de nossos olhos, mas que não temos tido a capacidade de apreciá-las.

E então, o que está esperando? Comece a olhar ao seu redor!!!