quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Cada Dia


Eu havia acabado de fechar o portão e me preparava para sair quando ouvi alguém dizer:
Por favor, pega Flora.

No meio da rua estava uma garotinha vestida com pijama, cabelo por pentear, que me dirigia um olhar suplicante.

Flora, por sua vez, era uma cadelinha poodle, de cor cinza, que havia escapado de casa e estava se divertindo muito ao correr pela rua de um lado para o outro.

Como não se comover diante de um pedido como aquele?

Levada pela emoção, decidi ajudar a garotinha, mas, de pronto, acendeu a luz vermelha da razão. E se Flora, na hora em que eu tentasse pegá-la, cravasse os dentes em meu braço?

 Tem de haver algum adulto por perto, pensei. Onde estão os pais dessa menina?

Nesse momento, as atenções de Flora e da garotinha voltaram-se para um par de graciosos cachorrinhos pinscher que, latindo animadamente, nos observavam da varanda da casa da frente.

  Vovó   disse a garotinha a uma senhora que se aproximava   veja esses cachorrinhos!

A voz da menina transmitia a emoção de quem acabara de descobrir algo encantador. A avó, por outro lado, carregou Flora, deu meia volta e pediu à neta que a acompanhasse. Não deu a mínima importância para os cachorrinhos e nem para mim, que contemplava tudo aquilo com um olhar de quem queria puxar conversa e fazer novas amizades.

Fiquei parada na calçada, observando-as enquanto elas se dirigiam à casa. A menina, toda empolgada, não parava de comentar o ocorrido, transparecendo alegria por haver visto aqueles cachorrinhos. A avó, alheia a tudo aquilo, seguia com o semblante muito sério e carregado.

Como o mundo de alguns adultos é fechado, pensei. Fechado para aproveitar as pequenas alegrias que tornam o dia grandioso, fechado para se deleitar com as coisas simples, e ao mesmo tempo tão preciosas, fechado para fazer dos pequenos acontecimentos uma fonte contínua de satisfação.

Ah! Se eu pudesse entregar-lhes a chave, ajuda-los a perceber... não deixar escapar cada momento, cada dia...
 
Cada dia que houver pra mim, cada ave a voar,
É motivo pra eu sorrir, é razão pra cantar.
Eu não canso de olhar o horizonte sem fim,
A grandeza do mar, ou a paz de um jardim.
Sinto a chuva cair, sinto a brisa do ar,
Vejo a Terra sorrir, vejo a vida chegar.
Cada dia ao nascer traz no sol o seu calor,
Cada raio a brilhar é um poema de amor
Eu não canso de ouvir tantos sons pelo ar,
As canções dos pardais ou a fonte a jorrar
Cada dia que houver pra mim, cada ave a voar,
É motivo pra eu sorrir, é razão pra cantar.

Essas belas palavras, de autoria de Valdecir Lima, adornadas pela melodia de Flavio Santos, fazem parte de uma canção que foi escolhida por mim como a música tema de minha vida diária: CADA DIA.

Cante você também e experimente essa maravilha em seu dia a dia.
http://youtu.be/sdIFYNPPTyc
 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A Polêmica dos Azeites e Você


O azeite de oliva sempre me proporcionou um incrível prazer olfato-gustativo. Mais prazeroso, ainda, é saber que, além de ser uma preciosidade gastronômica, este apresenta, também, inúmeros benefícios à saúde, com destaque para seu efeito antioxidante.

Às vezes fico a pensar de onde vem minha paixão pelo azeite e concluo que, talvez, seja de minhas raízes ancestrais.

Do lado materno, tenho parentesco direto com a cidade de Beira Alta, em Portugal, grande produtora de azeites.  Do lado paterno, por sua vez, ganhei o sobrenome Oliveira, a mãe das azeitonas e avó dos azeites extravirgens, cujo nome científico é Olea europaea.

Nos últimos dias tenho lido reportagens acerca de testes de qualidade feitos em azeites disponíveis para comercialização no Brasil. Os resultados reprovaram marcas famosas, sentenciaram à condição de virgem, azeites anunciados como extravirgens pelos fabricantes, além de indicarem que algumas marcas não podem nem ser consideradas azeite, e sim, uma mistura de óleos vegetais.

Várias marcas reprovadas não se pronunciaram, algumas questionaram os testes, afirmando que estes não utilizaram uma metodologia científica, enquanto outras disseram terem sido aprovadas por órgãos internacionais especializados no assunto.

Diante desse quadro polêmico, com um pouco de imaginação e bom humor, tratei de estabelecer algumas atitudes que eu, e os demais consumidores/fãs de azeite de oliva, podemos adotar.

A lista não é fechada e está aberta a sugestões!

1) não dar a menor importância para o assunto;
2) fazer um curso de metodologia científica aplicada a azeites de oliva para saber se os testes realizados foram, de fato, científicos, ou, ainda, montar um laboratório em casa e fazer os próprios testes;
3)vistoriar todas as condições de embarque, transporte e envase dos azeites, visto que a temperatura e a luminosidade podem alterar suas propriedades;
4)utilizar as marcas de azeites consideradas aprovadas pelos testes.

Essa é a vida! Pisamos o tempo todo em solo duvidoso. Tudo pode ser questionado e todos têm suas explicações.

A última pergunta, nesse caso, é: em quem vamos escolher acreditar e como fazer essa escolha?

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Um Estranho em Casa (Parte 2)


Fernando invadiu a residência da família Lins, que dormia, tranquilamente, no andar de cima, sem suspeitar que havia um estranho em casa.
Ao sair dali, Fernando levou o que bem quis e, ainda, provocou alguns estragos, entrando, também, em luta corporal com o Sr. Lins, que terminou estendido ao chão com muitos ferimentos pelo corpo.
Apesar do triste relato, afirmei, na primeira parte dessa narrativa, que Fernando não é um criminoso e que, naquela situação, era ele quem estava em desvantagem.
Compare esses dados:
Sr. Lins
Idade: 80 anos; Altura: 137 cm; Massa corporal: 83 kg;
Espécie: Homo sapiens

Fernando
Idade: 3 anos; Altura: 28 cm; Massa corporal: 5 kg;
Espécie: Felis catus
Fernando é um gato e, por isso, não pode ser acusado de nenhum crime.
As pessoas precisam entender que as normas de conduta, leis e estatutos que são válidos para humanos não são, por sua vez, aplicáveis aos animais.
Para um humano, é errado pular o muro da casa de alguém, urinar e defecar em seu jardim e retirar coisas da residência alheia, para um gato, não.
Precisamos reconhecer que o planeta Terra é, tanto nosso, quanto dos animais que nos cercam ou que venham a cruzar nosso caminho. Sendo assim, eles têm o direito de desfrutar, tanto quanto nós, daquele espaço territorial que consideramos como nosso.
Isso significa que aquela área que compramos, construímos, herdamos ou alugamos de alguém, não é apenas nossa, pertence também aos animais, e temos a obrigação de procurar resolver os conflitos interespécies de maneira sábia e equilibrada (tenho presenciado alguns humanos perderem, completamente, o equilíbrio ao se deparar com animais ou os efeitos da presença animal em “seu território”).
Ao resolver tais conflitos, devemos procurar o bem-estar de todas as partes envolvidas, e não, simplesmente, buscar a solução para  “nosso problema” (como aquelas pessoas que colocam filhotes em caixas no meio da rua ou atiram-nos dentro da residência de outros humanos).
Não somos donos de nada aqui no planeta Terra, apenas gestores.
Nossa gestão deve visar, não apenas, a defesa de nossos próprios interesses, e sim, o daqueles que estão ao nosso redor, incluindo os animais. Isso também é Sustentabilidade.
Voltando à família Lins, deixamos o Sr. Lins caído ao chão, sangrando, com o corpo cheio de mordidas e arranhões.
Pablo, o filho mais novo, e o mais impulsivo, repetia sem parar:
¾  Eu mato esse desgraçado! Deixa ele aparecer de novo e vai ter um belo pedaço de carne envenenada esperando por ele.
¾  Não, filho. Não precisa disso!  ¾  ponderou o Sr. Lins.
¾  Mas veja o que ele fez com o senhor, pai, agora terá de tomar vacina, e sabe-se lá se ele não estava contaminado pela raiva?
¾  Eu não devia ter tentado pegá-lo. Ele ficou muito nervoso, e, foi por isso, que me arranhou.
¾ Não! Se voltar aqui, ele morre. Eu já disse.
¾ Tenho uma ideia melhor,  ¾ falou Anthony. Vou trazer um cachorro pitbull e ele vai dar uma lição em todo gato que aparecer por aqui. É melhor do que comprar veneno e estragar um pedaço de carne, todo dia, esperando que algum gato apareça.
¾ Parem já com isso, vocês dois ¾ disse Marcela. Eu já sei o que podemos fazer e será melhor para todos.
¾  O que é?
¾  Fernando é um gato, certo?
¾  Sim, e daí?
¾  É melhor resolver as coisas de igual para igual.
¾  Como assim?
¾  Vamos todos nos transformar em gatos?
¾  Miau!
¾  Daqui a duas semanas haverá feira de adoção. Vamos até lá, adotamos um gato macho, forte e, assim, resolvemos o problema. Gatos são muito territoriais e, se castrados depois de adultos, continuam defendendo seu território de intrusos.
¾  Mas isso não daria certo. Esse nosso gato também sairia de casa, invadiria a residência de outras pessoas, causando problemas para elas.
¾  Podíamos telar as janelas e manter as portas fechadas, assim ele não escaparia ¾  opinou, pela primeira vez, a Sra. Lins.
¾  Gostei da ideia, querida, ¾ disse o Sr. Lins. E, mesmo assim, se outro gato entrar aqui, o negócio é não se meter com ele, deixar que saia livremente.
¾ Mas, se nosso gato ficar preso, dentro de casa, como poderá afugentar outros gatos que aparecerem por aqui? ¾  questionou Anthony.
E o debate seguiu em frente. A família Lins trocava ideias, ponderava, apresentava propostas e sugestões, buscando, juntos, a solução para aquele problema.
Fernando, por sua vez, acabara de entrar em mais uma residência, a da Sra. Edith, voluntária da secretaria de defesa dos direitos dos animais de sua cidade.
A Sra. Edith acolheu o animal, dando-lhe um lar temporário e preparando-o para a próxima feira de adoção.
Pois não é que, na feira, Fernando acabou por encontrar, de novo, a família Lins?
 
 
 

Fernando é essa criatura linda da foto. Tenho o privilégio de ser sua vizinha.
Quanto à narrativa e aos outros personagens, são todos fictícios.