Estamos comemorando a Semana das Crianças.
Por toda parte somos bombardeados pelos apelos comerciais que
apresentam 1001 sugestões de presentes para os pequenos.
Tenho observado, cuidadosamente, os encartes dos jornais alusivos a essa
data. Alguns deles, verdadeiras revistas de propagandas, trazem produtos que
são a febre do momento, e não apenas para crianças. Celulares, tablets e notebooks
estão no topo das listas de propagandas, seguidos de jogos eletrônicos,
bonecas, bonecos, carrinhos, pistolas, patins, patinetes, skates, bolas,
casinhas e seus utensílios, kits de beleza... Ufa! A lista é grande!
Uma das revistas de propagandas que mais me chamou atenção possuía 51
páginas, cada uma delas, com cerca de 20 itens. A capa também trazia lá suas
propagandas, enquanto a contracapa apresentava algo que me pareceu ser a
novidade máxima do momento: cartões-presente para as crianças comprarem o que
quisessem naquela loja. “Dê crédito para o seu filho comprar o que quiser”,
eram os dizeres ao lado do tal cartão. Havia também o cartão-presente com
crédito para a criança utilizar em jogos em determinada rede social. Posso
estar desatualizada, mas eu nunca tinha ouvido falar nisso antes.
Ao ver todos esses encartes, comecei a pensar em duas coisas:
a primeira, é que fiquei grandemente frustrada por não encontrar nenhuma
sugestão de livro como presente para as crianças.
Alguns, talvez, vão dizer; Ah, então você advoga em causa própria, pois estará
lançando um livro infantil no próximo dia 12...
É... pode ser. Não tenho como negar que gostaria muito de ver a propaganda de meus
livros em todos os encartes comerciais, em todos os jornais, nas revistas, no
rádio e na TV. E qual escritor não iria querer isso?
Mas a pergunta que não quer calar, que me incomoda e me preocupa é a
seguinte: Os pais estão incentivando seus filhos a cultivar o hábito da leitura?
As crianças de hoje desconhecem o prazer de devorar livros, prazer esse que
experimentei em minha infância, incentivada por minha família, e que me acompanha
até hoje?
Estamos na Semana das Crianças e isso me faz lembrar as palavras do Dr.
Augusto Cury, em seu livro Pais
Brilhantes, Professores Fascinantes: “...uma criança de sete anos na
atualidade tem mais informações na memória, do que um ser humano de setenta, há
um ou dois séculos.” p. 61.
Quando li essas palavras, tive a curiosidade de olhar o ano em que o livro
foi publicado: 2003, muito antes da febre dos dispositivos móveis. E agora,
como será que anda o patamar de informações na mente infantil?
Que bom! ¾ Muitos podem pensar. Nosso cérebro hoje está
mais evoluído, somos mais capazes que os humanos que viveram há alguns séculos.
Contudo, eu pergunto: será que nosso cérebro está mais desenvolvido que
o daqueles que viveram antes de nós, ou está mais sobrecarregado?
Será que um cérebro sobrecarregado tem a mesma desenvoltura que um
cérebro “light” para criar, planejar, solucionar conflitos, gerenciar
pensamentos, administrar o tempo, tomar decisões e desfrutar de cada momento do
dia, com sua rotina e suas surpresas?
Quando se fala em infância, não posso deixar de lembrar o célebre poema,
Meus Oito Anos, de Casimiro de
Abreu:
“Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!”
Enquanto leio esse poema, tenho o prazer de me deleitar, imaginando os cenários descritos pelo poeta, mesclados com cenas de minha própria infância.
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!”
Enquanto leio esse poema, tenho o prazer de me deleitar, imaginando os cenários descritos pelo poeta, mesclados com cenas de minha própria infância.
“Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!”
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!”
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
Do despontar da existência!
Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
“O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor”
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor”
Outros versos seguem-se a
estes, nos quais podemos perceber a habilidade das crianças de apreciar e se
deleitar com as coisas simples e belas da natureza. Então, de modo triste e
nostálgico, o poeta compara os tempos infantis com sua situação atual, dizendo:
“Que doce a vida não era
Em vez das mágoas de agora”.
Em vez das mágoas de agora”.
Quando leio essas palavras, sou levada a pensar que muitas pessoas
ainda não descobriram que a vida de adulto pode ser igualmente leve e feliz,
como a de uma criança, e que esse segredo está acessível a TODOS.
O primeiro passo consiste em restaurar o hábito de observar e dar valor
às coisas da natureza que estão bem aí, diante de nossos olhos, mas que não temos
tido a capacidade de apreciá-las.
E então, o que está esperando? Comece a olhar ao seu redor!!!
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