Sou a favor do respeito pelas diferenças do outro. Afinal,
estamos cercados de pessoas que têm ideias, opiniões, costumes, crenças e
valores bem distintos dos nossos. Para se ter uma boa convivência é preciso respeitar e, até
mesmo, aprender com essas diferenças. Mas, e quando a diferença do outro chega
ao ponto de colocar em risco nossa própria saúde, o que fazer?
Sentada, numa diminuta sala de espera em uma repartição
pública eu aguardava minha vez de ser atendida. Havia outras três pessoas,
também aguardando atendimento, um vigilante e duas funcionárias.
Em determinado momento, o vigilante abaixou a cabeça, abriu bem
a boca e ¾ sabem
o que ele fez? ¾ Deu
um espirro colossal, sorrindo, logo em seguida, com um ar de satisfação.
Uma das funcionárias, que já estava de saída, correu em direção
à porta dizendo em alta voz: ¾
Quanta bactéria! Vou embora!
O Espirrador, por sua vez, soltou uma longa e escarnecedora
gargalhada. Depois, com sua voz de locutor, em um tom sóbrio e comedido,
dirigiu-se à outra funcionária dizendo:
¾
Bactéria?! Essa Não! Eu tenho que aguentar cada uma! A pessoa não pode mais exercer
seu direito de espirrar sem ter que ficar ouvindo gracinhas...
O primeiro pensamento que veio à mente desta bióloga foi: “Será
que meu corpo já tem anticorpos para combater esse tipo de vírus?”
Em seguida surgiram diante de mim, de modo vivo e intenso,
cenas tremendamente perturbadoras: o campo de batalha, a comunicação celular, a
mobilização das células de defesa, a replicação rápida, e em grandes proporções,
do material genético viral, os primeiros sintomas, o desconforto e a inaptidão que
uma virose provoca na vida de qualquer mortal e tive vontade de saltar da
cadeira e dizer várias coisas para aquele homem. Coisas do tipo: “Por que você
fez isso? Nunca aprendeu que ao espirrar deve fazê-lo só pra você, sem compartilhar
material biológico com os demais? Por
que deu aquela risada escarnecedora para a funcionária que reprovou sua atitude
e ainda tentou fazer-se de vitima? Afinal, por que você age assim?”
Nesse momento, a porta principal da repartição se abriu e
duas senhoras vieram juntar-se a nós para aguardar atendimento naquela sala de
espera. Elas foram gentilmente recepcionadas pelo Espirrador e, logo em
seguida, eu o vi trazer um copo d’água para uma das senhoras e indagar se a
outra também desejaria tomar água, o que ela prontamente aceitou.
Fiquei imaginando qual seria a situação das mãos de uma
criatura com aquele ponto de vista acerca dos hábitos de higiene.
Não demorou muito e chegou minha vez de ser atendida. O
assunto foi resolvido de modo rápido, satisfatório e, em pouco tempo, eu estava
caminhando pela rua respirando livremente e sentindo pena dos que trabalham ali
naquela repartição.
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