quinta-feira, 20 de março de 2014

Impressionante!


Sou a favor do respeito pelas diferenças do outro. Afinal, estamos cercados de pessoas que têm ideias, opiniões, costumes, crenças e valores bem distintos dos nossos. Para se ter  uma boa convivência é preciso respeitar e, até mesmo, aprender com essas diferenças. Mas, e quando a diferença do outro chega ao ponto de colocar em risco nossa própria saúde, o que fazer?

Sentada, numa diminuta sala de espera em uma repartição pública eu aguardava minha vez de ser atendida. Havia outras três pessoas, também aguardando atendimento, um vigilante e duas funcionárias.

Em determinado momento, o vigilante abaixou a cabeça, abriu bem a boca e ¾ sabem o que ele fez? ¾ Deu um espirro colossal, sorrindo, logo em seguida, com um ar de satisfação.

Uma das funcionárias, que já estava de saída, correu em direção à porta dizendo em alta voz: ¾ Quanta bactéria! Vou embora!

O Espirrador, por sua vez, soltou uma longa e escarnecedora gargalhada. Depois, com sua voz de locutor, em um tom sóbrio e comedido, dirigiu-se à outra funcionária dizendo:

¾ Bactéria?! Essa Não! Eu tenho que aguentar cada uma! A pessoa não pode mais exercer seu direito de espirrar sem ter que ficar ouvindo gracinhas...

O primeiro pensamento que veio à mente desta bióloga foi: “Será que meu corpo já tem anticorpos para combater esse tipo de vírus?”

Em seguida surgiram diante de mim, de modo vivo e intenso, cenas tremendamente perturbadoras: o campo de batalha, a comunicação celular, a mobilização das células de defesa, a replicação rápida, e em grandes proporções, do material genético viral, os primeiros sintomas, o desconforto e a inaptidão que uma virose provoca na vida de qualquer mortal e tive vontade de saltar da cadeira e dizer várias coisas para aquele homem. Coisas do tipo: “Por que você fez isso? Nunca aprendeu que ao espirrar deve fazê-lo só pra você, sem compartilhar material biológico com os demais?  Por que deu aquela risada escarnecedora para a funcionária que reprovou sua atitude e ainda tentou fazer-se de vitima? Afinal, por que você age assim?”

Nesse momento, a porta principal da repartição se abriu e duas senhoras vieram juntar-se a nós para aguardar atendimento naquela sala de espera. Elas foram gentilmente recepcionadas pelo Espirrador e, logo em seguida, eu o vi trazer um copo d’água para uma das senhoras e indagar se a outra também desejaria tomar água, o que ela prontamente aceitou.

Fiquei imaginando qual seria a situação das mãos de uma criatura com aquele ponto de vista acerca dos hábitos de higiene.

Não demorou muito e chegou minha vez de ser atendida. O assunto foi resolvido de modo rápido, satisfatório e, em pouco tempo, eu estava caminhando pela rua respirando livremente e sentindo pena dos que trabalham ali naquela repartição.

Depois, com a ajuda do Dr. Google, encontrei a informação de que a velocidade do material expelido durante um espirro pode chegar até 160 km/h. Impressionante!

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