Ela tinha o cabelo longo, dobrado e fixo com uma presilha bem
no meio da cabeça. Estava um pouco acima do peso e usava uma roupa muito
apertada que parecia estar lhe causando certo incômodo. Ele, aparentando ter
dois anos a menos que ela, tinha um topete com fios espetados em todas as
direções. Quando sorria, podíamos ver sua linda “janelinha”. O que mais me
chamou a atenção naquelas crianças, porém, foi o modo como se comportavam.
Extremamente agitadas, cada uma tinha um smartphone na mão, o qual era revezado a
intervalos de tempo curtíssimos.
Durante o período em que estive assentada atrás delas, que
se faziam acompanhar pelos pais, naquele recinto, pude perceber que elas
acessavam diversos jogos pelo celular. A rapidez com que mudavam de um jogo
para o outro e revezavam entre si os smartphones,
muito me impressionou, como também a velocidade com a qual tocavam a tela dos
aparelhos.
Tentei acompanhar com o olhar um dos jogos, só para sentir
um tremendo mal estar em minha cabeça. O
cenário e os objetos ali dispostos se moviam tão intensamente, e tudo associado
a uma combinação de cores eletrizantes, que cheguei a pensar que meus circuitos
neuronais da visão iriam entrar em parafuso. “Como é que elas conseguem brincar
com isso?”, pensei.
Então lembrei-me de um colega de meus primeiros tempos de
escola.
Naquela época cursávamos, o que seria hoje, o primeiro ano
do ensino fundamental e aquele garoto muito se destacava, dentre todos os
alunos, por seu comportamento incomparavelmente agitado e inquieto. As pobres
professoras ficavam com os nervos a flor da pele de ter de lidar com um menino
tão alvoroçado.
Se pudéssemos trazer aquele meu colega do passado para os
dias atuais, provavelmente ele não mais seria um destaque, e sim, passaria despercebido
no meio de uma multidão de crianças inquietas, nervosas e agitadas.
Como será o futuro dessas crianças?
Por que não consigo tirar da cabeça o pensamento de que o
excesso de informações e de atividades, o excesso de estímulos provenientes de
brincadeiras e diversões artificiais e a falta de contato com a Natureza, em
família, estão diretamente envolvidos nessa questão?
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