Da janela de meu quarto eu olho para o
mundo exterior e vejo tanta coisa: casas e mais casas empilhadas lado a lado;
cabos condutores que, suspensos no ar, descrevem trajetórias diferenciadas;
antenas; postes de luz; automóveis...
Quando olho pela janela eu contemplo um
teto alto, imenso que, por vezes, exibe um tom azul brilhante, ora
multicolorido e, em outras ocasiões, cinzento ou totalmente negro.
Eu vejo as criaturas que possuem a
habilidade do voo, transitarem, livres, de uma árvore para outra. Ah! E por
falar nisso, também posso ver palmeiras, coqueiros, mangueiras e outras árvores
frutíferas que, com seu verdor, tornam o ambiente urbano muito mais agradável.
Olhando para o telhado de meu vizinho eu
vejo lagartixas. Há algo de singular nesses animais, que me prende a atenção, e
me fascina!
O desenho de seu corpo, o arranjo e o
design de seus órgãos internos, seu modo de olhar e de se locomover, seu porte
elegante... Sua habilidade de se sobrepor à ação do campo gravitacional da
Terra é algo surpreendente!
Nunca perguntei a uma delas, mas penso
que vida de lagartixa não deve ser nada fácil! Para algumas espécies, elas são
um verdadeiro terror, enquanto que, para outras, uma presa a ser capturada com
unhas e dentes.
E quanto aos humanos? Bem, pelo que
tenho observado, a relação entre eles e as lagartixas não tem sido das
melhores.
Para alguns humanos, esses animais
suscitam emoções e sentimentos intensos e incômodos, como medo, asco, pavor, o
que os leva a gritar, fugir ou procurar destruí-los. Outros humanos,
infelizmente, também procuram matar, capturar e incomodar as lagartixas porque
sentem prazer em atentar contra o bem estar da vida animal.
Quando olho para a lagartixa, eu vejo
que ela está sempre de cabeça erguida. Não importa o que aconteça se
perseguida, odiada, temida ou, simplesmente, desvalorizada e ignorada, ela
sempre mantém sua cabeça de pé.
Mesmo sendo um reptil, pode atingir
grandes alturas e lugares importantes, como diz o livro de Provérbios: “No mundo há quatro animais que são
pequenos, mas muito espertos: ... as lagartixas, que qualquer um pode pegar com
a mão, mas podem ser encontradas até nos palácios.” Prov. 30:24, 28.
E assim, pouco a pouco, rastejando, sem
pressa, a lagartixa chega ao topo da mais alta torre ou do mais alto edifício
construído pelo homem. Nesse momento, alguém olha para ela e diz:
–
Como você chegou até aqui? Pegou carona
no elevador?
–
Não! – responde a lagartixa.
–
Então alguém lhe trouxe?
–
Também não. Eu vim com minhas próprias patas.
–
Você veio rastejando?
–
Mas é claro! É assim que me locomovo.
–
Muito bem. Subiu, chegou às alturas, mas... olhe só para você... Veio
rastejando.
–
É isso mesmo lagartixa! Você nunca poderá chegar às alturas voando,
magnificamente, como as aves.
–
E jamais conseguirá saltar, triunfalmente, como o gafanhoto.
–
VOCÊ É UM REPTIL. Mesmo que suba às alturas, sempre estará rastejando.
A
lagartixa ouviu tudo aquilo, mas não entrou em controvérsia com seus oponentes.
Parou um pouco, respirou fundo e seguiu adiante, sem abaixar a cabeça. Ia
rastejando. Seu corpo, em contato direto com a superfície. E sua cabeça? Ora,
por que pergunta, se já sabe a resposta?