Fernando invadiu a residência da família
Lins, que dormia, tranquilamente, no andar de cima, sem suspeitar que havia um
estranho em casa.
Ao sair dali, Fernando levou o que bem
quis e, ainda, provocou alguns estragos, entrando, também, em luta corporal com
o Sr. Lins, que terminou estendido ao chão com muitos ferimentos pelo corpo.
Apesar do triste relato, afirmei, na
primeira parte dessa narrativa, que Fernando não é um criminoso e que, naquela
situação, era ele quem estava em desvantagem.
Compare
esses dados:
Sr.
Lins
Idade: 80 anos; Altura: 137 cm; Massa
corporal: 83 kg;
Espécie: Homo sapiens
Fernando
Idade: 3 anos; Altura: 28 cm; Massa
corporal: 5 kg;
Espécie: Felis catus
Fernando é um gato e, por isso, não pode
ser acusado de nenhum crime.
As pessoas precisam entender que as
normas de conduta, leis e estatutos que são válidos para humanos não são, por
sua vez, aplicáveis aos animais.
Para um humano, é errado pular o muro da
casa de alguém, urinar e defecar em seu jardim e retirar coisas da residência
alheia, para um gato, não.
Precisamos reconhecer que o planeta
Terra é, tanto nosso, quanto dos animais que nos cercam ou que venham a cruzar
nosso caminho. Sendo assim, eles têm o direito de desfrutar, tanto quanto nós,
daquele espaço territorial que consideramos como nosso.
Isso significa que aquela área que
compramos, construímos, herdamos ou alugamos de alguém, não é apenas nossa,
pertence também aos animais, e temos a obrigação de procurar resolver os
conflitos interespécies de maneira sábia e equilibrada (tenho presenciado
alguns humanos perderem, completamente, o equilíbrio ao se deparar com animais
ou os efeitos da presença animal em “seu território”).
Ao resolver tais conflitos, devemos
procurar o bem-estar de todas as partes envolvidas, e não, simplesmente, buscar
a solução para “nosso problema” (como
aquelas pessoas que colocam filhotes em caixas no meio da rua ou atiram-nos
dentro da residência de outros humanos).
Não somos donos de nada aqui no planeta
Terra, apenas gestores.
Nossa gestão deve visar, não apenas, a
defesa de nossos próprios interesses, e sim, o daqueles que estão ao nosso
redor, incluindo os animais. Isso também é Sustentabilidade.
Voltando à família Lins, deixamos o Sr.
Lins caído ao chão, sangrando, com o corpo cheio de mordidas e arranhões.
Pablo, o filho mais novo, e o mais
impulsivo, repetia sem parar:
¾ Eu mato esse desgraçado! Deixa ele aparecer
de novo e vai ter um belo pedaço de carne envenenada esperando por ele.
¾
Não, filho. Não precisa disso! ¾
ponderou o Sr. Lins.
¾
Mas veja o que ele fez com o senhor,
pai, agora terá de tomar vacina, e sabe-se lá se ele não estava contaminado
pela raiva?
¾
Eu não devia ter tentado pegá-lo. Ele
ficou muito nervoso, e, foi por isso, que me arranhou.
¾
Não! Se voltar aqui, ele morre. Eu já disse.
¾
Tenho uma ideia melhor, ¾ falou Anthony. Vou trazer um
cachorro pitbull e ele vai dar uma lição em todo gato que aparecer por aqui. É
melhor do que comprar veneno e estragar um pedaço de carne, todo dia, esperando
que algum gato apareça.
¾
Parem já com isso, vocês dois ¾ disse Marcela.
Eu já sei o que podemos fazer e será melhor para todos.
¾ O que é?
¾ Fernando é um gato, certo?
¾
Sim, e daí?
¾ É melhor resolver as coisas de igual para
igual.
¾ Como assim?
¾ Vamos todos nos transformar em gatos?
¾ Miau!
¾ Daqui a duas semanas haverá feira de adoção.
Vamos até lá, adotamos um gato macho, forte e, assim, resolvemos o problema. Gatos
são muito territoriais e, se castrados depois de adultos, continuam defendendo
seu território de intrusos.
¾ Mas isso não daria certo. Esse nosso gato
também sairia de casa, invadiria a residência de outras pessoas, causando
problemas para elas.
¾ Podíamos telar as janelas e manter as portas
fechadas, assim ele não escaparia ¾
opinou, pela primeira vez, a Sra. Lins.
¾
Gostei da ideia, querida, ¾ disse o Sr. Lins. E, mesmo
assim, se outro gato entrar aqui, o negócio é não se meter com ele, deixar que
saia livremente.
¾
Mas, se nosso gato ficar preso, dentro de casa, como poderá afugentar outros
gatos que aparecerem por aqui? ¾ questionou Anthony.
E o debate seguiu em frente. A família
Lins trocava ideias, ponderava, apresentava propostas e sugestões, buscando,
juntos, a solução para aquele problema.
Fernando, por sua vez, acabara de entrar
em mais uma residência, a da Sra. Edith, voluntária da secretaria de defesa dos
direitos dos animais de sua cidade.
A Sra. Edith acolheu o animal, dando-lhe
um lar temporário e preparando-o para a próxima feira de adoção.
Pois não é que, na feira, Fernando acabou
por encontrar, de novo, a família Lins?
Fernando é essa criatura linda da foto.
Tenho o privilégio de ser sua vizinha.
Quanto à narrativa e aos outros
personagens, são todos fictícios.
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