quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Um Estranho em Casa (Parte 2)


Fernando invadiu a residência da família Lins, que dormia, tranquilamente, no andar de cima, sem suspeitar que havia um estranho em casa.
Ao sair dali, Fernando levou o que bem quis e, ainda, provocou alguns estragos, entrando, também, em luta corporal com o Sr. Lins, que terminou estendido ao chão com muitos ferimentos pelo corpo.
Apesar do triste relato, afirmei, na primeira parte dessa narrativa, que Fernando não é um criminoso e que, naquela situação, era ele quem estava em desvantagem.
Compare esses dados:
Sr. Lins
Idade: 80 anos; Altura: 137 cm; Massa corporal: 83 kg;
Espécie: Homo sapiens

Fernando
Idade: 3 anos; Altura: 28 cm; Massa corporal: 5 kg;
Espécie: Felis catus
Fernando é um gato e, por isso, não pode ser acusado de nenhum crime.
As pessoas precisam entender que as normas de conduta, leis e estatutos que são válidos para humanos não são, por sua vez, aplicáveis aos animais.
Para um humano, é errado pular o muro da casa de alguém, urinar e defecar em seu jardim e retirar coisas da residência alheia, para um gato, não.
Precisamos reconhecer que o planeta Terra é, tanto nosso, quanto dos animais que nos cercam ou que venham a cruzar nosso caminho. Sendo assim, eles têm o direito de desfrutar, tanto quanto nós, daquele espaço territorial que consideramos como nosso.
Isso significa que aquela área que compramos, construímos, herdamos ou alugamos de alguém, não é apenas nossa, pertence também aos animais, e temos a obrigação de procurar resolver os conflitos interespécies de maneira sábia e equilibrada (tenho presenciado alguns humanos perderem, completamente, o equilíbrio ao se deparar com animais ou os efeitos da presença animal em “seu território”).
Ao resolver tais conflitos, devemos procurar o bem-estar de todas as partes envolvidas, e não, simplesmente, buscar a solução para  “nosso problema” (como aquelas pessoas que colocam filhotes em caixas no meio da rua ou atiram-nos dentro da residência de outros humanos).
Não somos donos de nada aqui no planeta Terra, apenas gestores.
Nossa gestão deve visar, não apenas, a defesa de nossos próprios interesses, e sim, o daqueles que estão ao nosso redor, incluindo os animais. Isso também é Sustentabilidade.
Voltando à família Lins, deixamos o Sr. Lins caído ao chão, sangrando, com o corpo cheio de mordidas e arranhões.
Pablo, o filho mais novo, e o mais impulsivo, repetia sem parar:
¾  Eu mato esse desgraçado! Deixa ele aparecer de novo e vai ter um belo pedaço de carne envenenada esperando por ele.
¾  Não, filho. Não precisa disso!  ¾  ponderou o Sr. Lins.
¾  Mas veja o que ele fez com o senhor, pai, agora terá de tomar vacina, e sabe-se lá se ele não estava contaminado pela raiva?
¾  Eu não devia ter tentado pegá-lo. Ele ficou muito nervoso, e, foi por isso, que me arranhou.
¾ Não! Se voltar aqui, ele morre. Eu já disse.
¾ Tenho uma ideia melhor,  ¾ falou Anthony. Vou trazer um cachorro pitbull e ele vai dar uma lição em todo gato que aparecer por aqui. É melhor do que comprar veneno e estragar um pedaço de carne, todo dia, esperando que algum gato apareça.
¾ Parem já com isso, vocês dois ¾ disse Marcela. Eu já sei o que podemos fazer e será melhor para todos.
¾  O que é?
¾  Fernando é um gato, certo?
¾  Sim, e daí?
¾  É melhor resolver as coisas de igual para igual.
¾  Como assim?
¾  Vamos todos nos transformar em gatos?
¾  Miau!
¾  Daqui a duas semanas haverá feira de adoção. Vamos até lá, adotamos um gato macho, forte e, assim, resolvemos o problema. Gatos são muito territoriais e, se castrados depois de adultos, continuam defendendo seu território de intrusos.
¾  Mas isso não daria certo. Esse nosso gato também sairia de casa, invadiria a residência de outras pessoas, causando problemas para elas.
¾  Podíamos telar as janelas e manter as portas fechadas, assim ele não escaparia ¾  opinou, pela primeira vez, a Sra. Lins.
¾  Gostei da ideia, querida, ¾ disse o Sr. Lins. E, mesmo assim, se outro gato entrar aqui, o negócio é não se meter com ele, deixar que saia livremente.
¾ Mas, se nosso gato ficar preso, dentro de casa, como poderá afugentar outros gatos que aparecerem por aqui? ¾  questionou Anthony.
E o debate seguiu em frente. A família Lins trocava ideias, ponderava, apresentava propostas e sugestões, buscando, juntos, a solução para aquele problema.
Fernando, por sua vez, acabara de entrar em mais uma residência, a da Sra. Edith, voluntária da secretaria de defesa dos direitos dos animais de sua cidade.
A Sra. Edith acolheu o animal, dando-lhe um lar temporário e preparando-o para a próxima feira de adoção.
Pois não é que, na feira, Fernando acabou por encontrar, de novo, a família Lins?
 
 
 

Fernando é essa criatura linda da foto. Tenho o privilégio de ser sua vizinha.
Quanto à narrativa e aos outros personagens, são todos fictícios.
 
 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário