terça-feira, 28 de maio de 2013

Coisas da Natureza

Aconteceu em um sábado à tarde. Ao olhar pela janela, bem ali, diante de meus olhos estava ele, um lindo arco-íris.



Ah! Natureza, tão bela e tão terna, e, por vezes, tão cruel e implacável! Em algumas ocasiões fico só, extasiada, contemplando-te, em outras, sinto-me compelida a interferir em teus rumos.
Foi o que aconteceu, um par de horas mais tarde, quando vi Bruce Tigrinho, o filho primogênito da Princesa, passar por mim correndo, com uma lagartixa na boca.

Esse felino, acreditem, tem uma beleza singular e atraentemente sedutora. Quando aparece na frente de casa, todos os humanos que transitam pela rua param para admirá-lo.
Se apenas com seu porte, sua presença, ele já arranca suspiros dos humanos, imaginem o que acontece quando ele abre a boca e fala (em linguagem de gato, é óbvio), ao mesmo tempo em que faz uso do poder de comunicação de seus lindos olhos verdes, tão profundos e expressivos!

Quando Tigrinho olha bem nos olhos das pessoas e mia, ele as seduz de tal modo, que conquista rapidamente, e sem muito esforço, um amplo espaço no coração delas.
Alguns humanos, por outro lado, são meio difíceis de conquistar, mas os gatos são pacientes. Sem que o humano perceba, eles vão, pouco a pouco, derrubando preconceitos, demolindo barreiras, anulando paradigmas e, quando chega um belo dia, aquele humano difícil se transforma em uma criatura totalmente apaixonada e disposta a ceder e satisfazer as vontades felinas. Uma dessas histórias, de como gatos conquistam corações humanos, aparentemente inacessíveis, vou contar em meu livro “O Tigre e as Princesas”. Aguardem!

Voltando ao ponto em que parei quando comecei a descrever a beleza tigrada e seus poderes de seduzir humanos, eu mencionava que vi Bruce Tigrinho passar correndo com uma lagartixa na boca. Não pensei duas vezes e, de imediato, tomei a decisão de interferir na ordem natural das coisas, usando meus poderes e habilidades humanas.
Tentar tirar a lagartixa da boca do Tigrinho, nem pensar, pois assim ela seria morta e eu ganharia uma boa mordida e muitos arranhões.

Fui atrás dele e fiquei esperando o momento certo de agir. Não demorou muito e o felino soltou a lagartixa, que permaneceu imóvel, fingindo-se de morta, como diriam alguns.
O que devia acontecer em seguida era o Tigrinho também fingir que não estava nem aí para sua presa, ficar imóvel, a lagartixa tentar correr para escapar, ele capturá-la, para depois soltá-la, logo em seguida, e ficar nesse agarra e solta até que o pobre réptil, teria vasos sanguíneos perfurados, hemorragias internas, edemas, perfuração de órgãos vitais e, finalmente, viria a óbito.

Mas eu estava decidida a não permitir que tais acontecimentos tivessem lugar .
Foi então que interferi na ordem natural das coisas. Agarrei Tigrinho e coloquei-o dentro de casa, trancando a porta. Em seguida, peguei a lagartixa, que ainda continuava imóvel, em estado de torpor. Ao tomá-la em minha mão, o modo como aqueles dedinhos deslizaram e acabaram por fixar-se em minha pele, proporcionaram uma agradável sensação para a área somestésica de meu cérebro.

Minha ação foi bem oportuna, pois, logo em seguida, chegaram as irmãs do Tigrinho, caçadoras igualmente implacáveis. Elas tiveram o mesmo destino do irmão.

Deixando os três felinos trancados em casa e, ao som de miados de protesto, desci as escadas com a lagartixa em minha mão e coloquei-a de volta no mesmo local em que ela se encontrava antes de ser capturada.
Ao retornar, sentei-me à mesa e passei a ter momentos de leitura, sob o olhar fulminante e reprovador do Tigrinho. Depois, tomando-o no colo, eu acariciei-o e expliquei-lhe que ele não precisava de lagartixas para sobreviver.

Terminei prometendo a mim mesma comprar um brinquedo para Tigrinho, um rato artificial, que se mova pela casa, ou algo assim.

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